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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Não sentindo...

Não sentir
"O hábito tem-lhe amortecido as quedas. Mas sentindo menos dor, perdeu a vantagem da dor como aviso e sintoma. Hoje em dia vive incomparavelmente mais sereno, porém em grande perigo de vida: pode estar a um passo de estar morrendo, a um passo de já ter morrido, e sem o benefício de seu próprio aviso prévio." ( LISPECTOR, Clarice. In: A descoberta do mundo)

Madrugada. O sono não chega. Em compensação chegam muitas outras coisas no corpo e na mente. Trezentas vezes ou pelo menos trinta das trezentas ( sem o benefício do exagero poético) levantei e deitei, talvez na tentativa vã de cansar o corpo e tornar mais fácil a ele convencer a mente de que preciso realmente dormir. 
Ah, notei hoje quanto tempo faz que não escrevo nada do que sinto. Não há uma poesia que registre os últimos ou costumeiros sentimentos que veem inutilmente me acompanhado nesses tempos. To mesmo é engasgada. Algum alimento ou coisa parecida de que experimentei me fez mal ou simplesmente não desceu... Talvez tenha sido aquela espinha de peixe do jantar. Talvez. O fato é que as palavras não estão saindo  ou pelo menos não as que eu quero que saiam.  Nem mesmo  tão necessárias, como sempre, elas são. Hoje não há nada tão vital, que não possa ser retirado. A impressão que dá é que me acostumei com as faltas ou deixei a rebeldia de lutar contra elas finalmente. De repente me sinto leve nesse vazio... Realmente desprendida. É como se não precisasse de nada além do que tenho e como se sentisse que não sofreria se amanhã não tivesse mais o que tenho. Mas bem sei que é ilusão, as faltas e as sobras sempre doem. Não há como não sentir "perdas" e "ganhos" quando são "reais". Mas hoje não... Sei que não sinto. Pelo menos não hoje. Não nesse momento. Nesse momento estou dopada. Entorpecida. Não sei bem explicar essa falta de emotividade que hoje me abateu. Na verdade, seria mais falta de afetividade... Hoje a solidão me caiu muito bem, hoje eu não preciso desesperadamente de alguma companhia. Hoje eu não preciso ir a lugar algum... Tenho o mundo em minha mente e dentro dela tudo é possível. Ir a qualquer lugar é possível; ver desde às ruas frias de Paris ao sol do Caribe. Mas não quero sair. Não quero lugar algum, além do que estou. É possível também até sonhar e ver realizado meus desejos mais profundos, ver destruídos meus medos mais medonhos e construído aquele mundo que ontem eu sonhei. Mas deixarei pra imaginar amanhã. Hoje é o cansaço, é o vazio, é o desprezo, é o desapego, é a inexistência. Nada é possível, por que nada é sentido. Pelo menos nada de que eu já conheça, já tenha visto, ouvido ou sentido. Nada de que faça algum sentido, nada que seja duradouro, verdadeiro, nada disso hoje é possível. Por que hoje não há espaço para o sonho, nem mesmo há espaço para a razão. Hoje é só o branco. O nevoeiro branco de quem sente por uma noite o vazio imenso e imensurável do nada. E eu continuo... Continuo não sentindo.
                                                                                                                       Luanna ( Lua) às 3:08 am.
         

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