Sentia
uma nostalgia ao ouvir aquela velha música e chegava a bater-lhe uma saudade
enorme daquela menina com ar de criança crescida, aparentemente boba, ingenua.
Quando procurava desatenta, não via se quer sinal de que ela existira, nada a
lembrar, nenhuma lembrança de sua persoanalidade destruida.
Cada sorriso que ela oferecia, por mais triste
que fosse, representava um sonho seu, uma bonita esperança. Mas e hoje, o que
dela havia ainda?
Via a
menina diante de seus olhos uma realidade que definitivamente não lhe descia
por mais que empurrasse, no entanto diante à releitura de seus olhos, agora
opacos, ela ignorou tal tristeza e decepção e fingiu estar tudo bem. Ergueu a
cabeça.
Por dentro sentia-se perdida, não do mundo,
mas de si propria. Era como se tivesse que nascer de novo para poder então se
sentir. Dessa forma então, iniciou uma construção turbulenta: Sonhos antigos
substituidos por novos e as emoções que julgava tão profundas, descartadas,
maltratadas. Eram tão pueris, mas eram o que havia de mais real e em duvida
ficou de jogá-las ou não, mas optou inda sim pelo não.
Ligada por um forte desejo de ser como era
antes, ela sabia no entanto que o perdido era irrecuperavel e, como gente
grande, entendeu que o deixado pra tras poderia nunca mais ser visto, seria
agora um fantasma: Vem, pertuba um pouco e não deixa nada. Vai do jeito que
veio, assim sem mais nem mesmo e levar, inda bem, não leva nada.
Via sua meiguice de criança tomar ares de
seriedade, e seu sorriso desenfreado agora buscava motivos, ria apenas do que
achava graça. Tornara-se tão responsável, tão endurecida, que não se comovia mais
com aquelas canções que antes ouvia. De repente elas ficaram vazias, sem
sentido. Foram só canções de momentos ou
ela que se tornara complexa demais para as canções? Ela vivia um outro momento.
Era seu florescer. Sua vibrações eram outras, seus amigos eram outros, seus
desejos também outros. De repente sentia-se capaz de lutar pelo que acreditava:
Descobrira-se uma idealista.
No espelho do quarto não via a mesma face,
mas num mergulhar mais profundo via semilaridade a algum ser dantes visto: Via
um traço, um resquicio, parecido com algo que encontrou no passado. Era a sua
doçura, bem escondida, como um balde no fundo de um poço. Que terá acontecido
com aquela menina?
A vida
atuou sobre ela, que tinha expressões novas a dispor; uma cara fechada e um
óculos, efeito das leituras que a vida lhes proporcionou.
Ela
assumiu-se de vez tal como era, deixou seus cabelos cachearem como queriam, não
dizendo-lhes rebeldia, aceitava-os agora e amava-os. Escrevia mais do que
nunca, sobre tudo que sentisse vontade de escrever: Não precisava conter, não
precisava esconder. Não precisava rasgar mais o que sentia, tampouco sentia
necessidade de divulgar a mudança: Deixa estar ( let it be), deixa ser o que se
é. Hoje é isso, amanhã quem nos dirá? Não queria pertencer a grupos, nem a
padrões, nem a definições. Podia ser a contradição que era e ser feliz. Um ser
dubio como todos os outros. Podia simplesmente transmutar-se, reinventar-se,
adaptar-se: Podia simplesmente...
Ser
humana.
Sentir...
Sentir...
e morrer
sentindo...
Luanna Alves ( Lua)
Aos seres mutáveis assumidos:
http://www.youtube.com/watch?v=9j5Jhpd1H98
Luanna Alves ( Lua)
Aos seres mutáveis assumidos:
http://www.youtube.com/watch?v=9j5Jhpd1H98
Curioso esse texto porque fala de mudanças, sem se esquecer do passado e, sobretudo, sobre mudanças que não se orientam por padrões, grupos e definições. Nossa, eu sou a contradição em pessoa. Quando penso em uma coisa, ao mesmo tempo penso no contrário dessa coisa e minha cabeça da voltas, aliás, tudo dá voltas. Um texto cheio de poesia, muito bonito, Lua. Parabéns pelo blog!!!
ResponderExcluirQuando me olho no espelho vejo uma completa estranha,como se aquela imagem não me refletisse... experimento uma sensação de abandono. Porém, quando fixo o olhar nos meus olhos, percebo os mesmo olhar infantil de outrora....Lua, muito belo o seu texto!!! Ele reflete o que fui,sou e serei: um ser em eterna mudança
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