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terça-feira, 7 de junho de 2011

A Transmutada

           “Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo”.

    Sentia uma nostalgia ao ouvir aquela velha música e chegava a bater-lhe uma saudade enorme daquela menina com ar de criança crescida, aparentemente boba, ingenua. Quando procurava desatenta, não via se quer sinal de que ela existira, nada a lembrar, nenhuma lembrança de sua persoanalidade destruida.
   Cada sorriso que ela oferecia, por mais triste que fosse, representava um sonho seu, uma bonita esperança. Mas e hoje, o que dela havia ainda?
   Via a menina diante de seus olhos uma realidade que definitivamente não lhe descia por mais que empurrasse, no entanto diante à releitura de seus olhos, agora opacos, ela ignorou tal tristeza e decepção e fingiu estar tudo bem. Ergueu a cabeça.
   Por dentro sentia-se perdida, não do mundo, mas de si propria. Era como se tivesse que nascer de novo para poder então se sentir. Dessa forma então, iniciou uma construção turbulenta: Sonhos antigos substituidos por novos e as emoções que julgava tão profundas, descartadas, maltratadas. Eram tão pueris, mas eram o que havia de mais real e em duvida ficou de jogá-las ou não, mas optou inda sim pelo não.
   Ligada por um forte desejo de ser como era antes, ela sabia no entanto que o perdido era irrecuperavel e, como gente grande, entendeu que o deixado pra tras poderia nunca mais ser visto, seria agora um fantasma: Vem, pertuba um pouco e não deixa nada. Vai do jeito que veio, assim sem mais nem mesmo e levar, inda bem, não leva nada.
    Via sua meiguice de criança tomar ares de seriedade, e seu sorriso desenfreado agora buscava motivos, ria apenas do que achava graça. Tornara-se tão responsável, tão endurecida, que não se comovia mais com aquelas canções que antes ouvia. De repente elas ficaram vazias, sem sentido. Foram só canções de momentos  ou ela que se tornara complexa demais para as canções? Ela vivia um outro momento. Era seu florescer. Sua vibrações eram outras, seus amigos eram outros, seus desejos também outros. De repente sentia-se capaz de lutar pelo que acreditava: Descobrira-se uma idealista.
   No espelho do quarto não via a mesma face, mas num mergulhar mais profundo via semilaridade a algum ser dantes visto: Via um traço, um resquicio, parecido com algo que encontrou no passado. Era a sua doçura, bem escondida, como um balde no fundo de um poço. Que terá acontecido com aquela menina?
   A vida atuou sobre ela, que tinha expressões novas a dispor; uma cara fechada e um óculos, efeito das leituras que a vida lhes proporcionou.
   Ela assumiu-se de vez tal como era, deixou seus cabelos cachearem como queriam, não dizendo-lhes rebeldia, aceitava-os agora e amava-os. Escrevia mais do que nunca, sobre tudo que sentisse vontade de escrever: Não precisava conter, não precisava esconder. Não precisava rasgar mais o que sentia, tampouco sentia necessidade de divulgar a mudança: Deixa estar ( let it be), deixa ser o que se é. Hoje é isso, amanhã quem nos dirá? Não queria pertencer a grupos, nem a padrões, nem a definições. Podia ser a contradição que era e ser feliz. Um ser dubio como todos os outros. Podia simplesmente transmutar-se, reinventar-se, adaptar-se: Podia simplesmente...
Ser humana.
           Sentir...
                    Sentir...
                         e morrer
                              sentindo...


                                                                                                                                  Luanna Alves  ( Lua)


Aos seres mutáveis assumidos:
http://www.youtube.com/watch?v=9j5Jhpd1H98

2 comentários:

  1. Curioso esse texto porque fala de mudanças, sem se esquecer do passado e, sobretudo, sobre mudanças que não se orientam por padrões, grupos e definições. Nossa, eu sou a contradição em pessoa. Quando penso em uma coisa, ao mesmo tempo penso no contrário dessa coisa e minha cabeça da voltas, aliás, tudo dá voltas. Um texto cheio de poesia, muito bonito, Lua. Parabéns pelo blog!!!

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  2. Quando me olho no espelho vejo uma completa estranha,como se aquela imagem não me refletisse... experimento uma sensação de abandono. Porém, quando fixo o olhar nos meus olhos, percebo os mesmo olhar infantil de outrora....Lua, muito belo o seu texto!!! Ele reflete o que fui,sou e serei: um ser em eterna mudança

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