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quinta-feira, 23 de junho de 2011

A primeira vez que me vi triste...



   Eu vivia sempre cantando e isso incomodava muita gente. Entretanto algumas outras pessoas, mais comovidas, diziam: És tão alegre assim para estar sempre cantando?
  Mas eu nada respondia, apenas continuava a cantoria. Continuava por que aquilo me trazia alegria e quando cantava eu esquecia o mundo lá fora: Com as guerras, as maldades, as trapaças e tudo mais que eu não queria mais ver. Já tinha fechado os olhos e decidido permanecer na minha ilusão: Sonhar era definitivamente melhor e imponha sempre coragem para viver.
   Quando dava vontade, cantava. E quando passava cantando... Alguns riam, me achando louca, outros paravam e diziam: Até que tens uma linda voz. 
Mas eu nunca acreditava muito nisso, então sorria num singelo obrigado.
   Numa das vezes me perguntaram se aquilo tudo era amor, se o meu canto era de um coração ardente de paixão e eu, finalmente, respondi alguma coisa:
 - Sou apaixonada pela vida. Ela me fascina.
- Ah bom... Tá explicado.
  E segui meu caminho, sem responder mais alguma pergunta. Aonde chegava cantava e quando cantava alegrava quem quer que fosse desde a moça ou rapaz mais triste até a (o) mais risonha (o). Sem distinções de sexo, classe, apenas pela vontade de querer levar alegria. 
   Então um dia perdi alguém que gostava muito: Um câncer impiedoso havia levado e eu, então, soube como era triste ver alguém tão querido sumir em menos de dois meses. Era alguém que estivera a vida toda comigo, alguém dos meus tempos de infância. Alguém que eu tinha total certeza de que me amava e eu me senti impotente, pois nada podia fazer além de assistir e rezar. A doença era fatal na maioria das vezes e mesmo assim até o último instante eu guardava uma ponta de esperança de que ela se recuperaria e eu poderia novamente vê-la sorrindo. Mas pouco tempo depois me vestia de um luto que quase me mata junto: Eu adoeci de saudades. Fiquei tão fraca que pensei que não ia me recuperar e fui parar no hospital, quase morta. Aquilo fora uma experiência única... Minha vida mudou depois daquilo: Não tinha mais tanto medo de morrer. A morte era gelada, mas nos enchia de paz. Era como se aos poucos você fosse sumindo e, de repente, você não tinha mais consciência de que existia ou de que houvesse existo. A falta de consciência da existência nos retirava toda a dor, era isso que acontecia. Só para ter noção, indague-se: se você não existisse, sentiria dor? Certamente que não.
   Mas eu vivi, contrariando todos aqueles que se alegraram com meu padecer e comecei finalmente meus estudos apos uns três difíceis meses de espera e de dor: Manter a mente ocupada parecia ter sido a solução, pois agora mal tinha tempo para lembrar. Mesmo assim, foi difícil soltar a voz para entoar meu primeiro canto. Ele saiu leve e tão tímido, que achei que não ia sair... Mas depois cresceu e se espalhou de forma misteriosa, mais forte do que antes. Eu agora cantava tão alto que mesmo as montanhas mais altas poderiam escutar aqueles sons agudos e graves emitidos. Estava me recuperando e aos poucos voltava a sorrir.
  Aquele mundo se mostrava muito novo para mim. Imaginava que iria encontrar muita gente interessante, sensível. O pior era que sempre esperava de alguma forma catar algum resquício de sensibilidade em cada pessoa. Conheci pessoas de fato sensíveis, amáveis, tão queridas que não imaginava um dia ter que expulsá-las da minha vida. Algumas não despertando nada em mim, me surpreenderam com tanta amabilidade e leveza de coração. Outras nem se quer se aproximavam, nem também deixavam que me aproximasse... Permaneceram lá, intactas como porcos-espinhos, envoltas em si mesmas de tão reservadas que eram. Não houve com estas alguma troca de energia, nem boa nem má e talvez fosse até melhor assim. Algumas pessoas jamais nós iremos conhecer o mínimo possível. Essas a gente vê, diz um oi educado e deixa passar.
  O fato era que a esse mundo e qualquer outro que se apresentava para mim, minha resposta era o canto: Cantava e o sorriso dançava por entre esses sons emitidos. Era minha dádiva ter voz para cantar, pois quantos nem se quer tinham. Eu amava as palavras, a poesia, a música e só por isso, também amava o universo.
  Foi uma tristeza  ontem: foi um ano sem música, sem voz, sem vontade de cantar... E só agora vejo a música retornando para mim como um barco ao seu convés, fazendo paz em meu coração... Ah! por que quando eu parei de cantar, meu chapa...
Foi a primeira vez que me vi  triste.


Luanna Alves ( Vulgo Lua)

6 comentários:

  1. Lua, muito lindo seu texto. Pois eu te digo: Cante sempre, que sua voz é linda, bem q eu qria ter uma voz bonita p sair cantando. Igual naquele dia q a gnt saiu q nem malucas cantando raul bem alto na rua!! lembra? Ass. Déborah Maria

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  2. Lindo conto, adorei o que você escreveu.
    Continue sempre escrevendo, você se tornará uma grande escritora.

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  3. Que bom que voltou a ser feliz, Lua. Eu gosto de pessoas assim ao meu lado, constrasta com meu jeitão quieto e distante. Eu sou monótono... Ah, você e Déborah, duas loucas!!! Nunca ouvi sua voz...

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  4. Eu sempre gostei das canções da lua. Eu ainda tenho aqui a 'O céu e a Alvorada'.Ela já pediu para que eu a apagasse, mas eu nunca vou obedecer essa ordem. Muita boa as composições dela. Saudade de tocar junto com ela.

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  5. Parabéns... Belo texto! Apesar de já saber dessa parte da sua vida! rsrs Mas você soube coloca-la em um belo conto! :)
    Sucesso Sempre!
    Iuri

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  6. Belíssimo texto Lua, original e sensível como você. Existem realmente fatos que nos freiam, tiram a alegria de nosso caminho. Mas o importante é sabermos sempre onde paramos e recomeçar. Sei que você é boa de recomeço - vá em frente. Um beijo de sua amiga, Angel (Cleidinha Reis)

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