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segunda-feira, 23 de abril de 2012

A verdade é um cobertor... (Ou não?)


"A verdade é um cobertor que deixa sempre seus pés frios"...
    Uma bela frase que vi hoje num grande filme sobre poesia, sobre a vida e a quebra de padrões para que se exerça de fato a nossa individualidade. 
   Muitas vezes pensamos a respeito do que é verdade e se ela de fato existe, se ela é absoluta ou relativa... E há certo ponto de nossas vidas, percebemos que a busca pela nossa própria verdade nunca cessa, já que a vida é feita de transformações e nunca permanecemos os mesmos; não podemos exigir que nossas verdades sejam sempre as mesmas.  Mas o mais interessante desta frase, creio eu, é que ela por um acaso abre discussão para uma outra coisa que estive pensando: A verdade nos completa? Nos cobre e nos aquece por inteiro? Ou ela deixa de fato nossos "pés" descobertos? O que preencheria o descoberto pela verdade?
   Se a verdade confundir-se com a palavra realidade, tornando-se a própria; poderia eu dizer que a realidade não nos completa, mas pelo contrário: ela esfria alguma parte do nosso ser... E é para a plenitude que existe o irreal, o imaginário, o ilusório. Viver somente a realidade é estar encarcerado numa prisão onde nosso único crime é ter matado nosso impulso de vida, ou seja, o que no mais intimo de nós é negado, aprisionado, condenado: nossos sonhos e paixões.
  E por que tão condenável sonhar?  Se a ilusão nos completa por inteiro também, não é a realidade que irá fazer isso. Se a realidade descobre os pés...A ilusão, o que deixaria descoberto? Nossas cabeças? Se dizem que o iludido ou que o louco vive irracionalmente, seguindo seus instintos como animais... E isso é errado. Por que então as comunidades ditas "irracionais" como as das formigas, por exemplo, se ajudam mutualmente: todas desempenhando suas funções e todas usufruindo tudo aquilo que é produto do trabalho coletivo, como a alimentação que todas se juntam para carregar. Por que me parece mais "humano" no sentido de colaborativo, de amoroso, afável, essas comunidades animais? 
    Se a humanidade não pode mais negar a contribuição que trouxe a racionalidade e o pensamento racional, tão pouco deveria negar o mal que ele parece nos trazer: reprimir nossa criatividade, destruir nossos sonhos só por que eles por vezes não parecem realizáveis. Tão pouco deveria também negar o quanto os instintos são também importantes e de como a repressão deles pode acarretar em males ao psicológico dos indivíduos.
  Se a racionalidade e toda a ciência não nos cobre, não nos satisfaz, tão pouco satisfaz também somente a ilusão, o sonho, a poesia. Tão pouco uma deveria então exercer "autoritarismo" sobre a outra. Como produtos humanos, produtos que falam sobre inquietações humanas: ilusão e realidade combinam-se e compõem a vida. Uma nos aquece para a fria realidade ( a ilusão), a outra nos tira do perigo da total abstração. Nos métodos, nas ciências, nas pesquisas, porém, o que se busca ensinar? a criatividade ou a improdutividade? a inteligência ou a sabedoria? o espirito curioso de quem nada acha que sabe e vive a questionar ou a arrogância de quem tem "o conhecimento nas mãos" como se este fosse palpável e limitado.
    Eu não estou aqui para responder, mas para ajudar a questionar.  Pessoas, poetas de armários, não nos prive da sua arte. Há muitos lá foram que precisam das suas vozes para poder, mais tarde, darem seus próprios gritos. Como diria Clarice Lispector "Se existe o direito de gritar, então eu grito!"
   "Não escrevemos nem lemos poesia por que é bonitinho. Escrevemos e lemos poesias por que somos humanos. A raça humana é repleta de paixão." (SR. KEATING, SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS)